quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pesquisa: cresce número de 'empresas-zumbi' no Brasil


País começa a sentir os efeitos de um cenário macroeconômico negativo envolvendo recessão na zona do Euro, insolvência de alguns países e crise de confiança generalizada

O Brasil vivencia uma invasão zumbi. Não é bem como em The Walking Dead, mas representa um perigo real para a saúde financeira das empresas, da cadeia produtiva e, por extensão, do país. O número de 'empresas-zumbi' - apelido que se dá a organizações que não geram caixa e nem lucro suficientes para pagar a dívida nos seus balanços - cresceu 50% no primeiro semestre de 2012.
A informação é resultado de um estudo da KPMG junto às principais instituições financeiras do Brasil. Assim como ocorreu no segundo semestre de 2008, durante a primeira eclosão da crise financeira internacional, o Brasil começa a sentir os efeitos de um cenário macroeconômico negativo envolvendo recessão na zona do Euro, insolvência de alguns países e crise de confiança generalizada. Segundo a análise, "esses efeitos se manifestam no mercado financeiro pela maior dificuldade para bancos brasileiros captarem recursos no exterior. Onde a captação ocorre, ela tipicamente se dá em volumes menores e a custos maiores que os anteriores".
Já no caso dos bancos internacionais que operam no Brasil, o problema ocorre por decisões da matriz de repatriar recursos para cobrir necessidades de capital nos países de origem dos bancos. Alguns executivos de recuperação de crédito de bancos entrevistados no Brasil pela KPMG demonstram preocupação com os efeitos da crise, citando em particular alguns setores, tais como frigoríficos e usinas de açúcar e álcool. O levantamento detectou ainda que o prazo de transferência dessas empresas para a área de recuperação de crédito varia, entre os entrevistados, de dez a 30 dias após o vencimento.
zumbi
(imagem: reprodução/The Walking Dead)

Segundo André Schwartzman, sócio da área de Reestruturação da KPMG no Brasil, para as empresas, com raras exceções, a crise materializa-se na dificuldade de renovar limites de crédito existentes e no aumento do custo financeiro. "As empresas em situação patrimonial menos favorável podem ficar de fora do mercado financeiro tradicional, tendo que recorrer às operações de desconto de duplicatas a custos insustentáveis", explica.
O estudo mostra que as empresas-zumbi são muitas vezes aquelas que passaram por uma recuperação judicial há algum tempo, somente postergando o vencimento de suas dívidas, sem implementar ações efetivas de reestruturação. "Em diversos casos, elas perderam uma grande oportunidade para tomar ações efetivas, como o equacionamento do montante da dívida, a capacidade de geração de caixa da empresa ou a realização de mudanças na gestão", explica Salvatore Milanese, também sócio da KPMG.
"Muitas vezes, as companhias que passam por recuperação judicial no Brasil não endereçam as reais causas de seus problemas. Os credores, pressionados a resolverem seus problemas de crédito rapidamente e desejando evitar a qualquer custo um prolongado processo de falência, acabam aprovando planos que não são sustentáveis no longo prazo", complementa.

Vida vegetativa

Assim como os zumbis das histórias estão mortos, mas ainda andam, os equivalentes corporativos das empresas ficam vagando em uma zona logo acima da insolvência, porém ainda distantes de uma verdadeira viabilidade. Uma empresa-zumbi precisa de ajuda financeira contínua de credores e investidores para continuar suas operações. Geralmente, elas não demonstram necessariamente prejuízos, e têm uma lucratividade próxima do zero ou ligeiramente positiva. Entretanto, embora gerem receitas suficientes para pagar suas despesas operacionais, elas não conseguem pagar suas dívidas, o que traz preocupações para os credores.

Alternativas

O futuro para muitas empresas-zumbi pode ser sombrio. Em muitos casos, a situação é grave e os gestores das empresas estão rezando para um crescimento forte na demanda, sem o qual eles não conseguirão ver a luz no fim do túnel. Isso é mais verdadeiro ainda para as empresas que não conseguirem reconhecer seus problemas. De acordo com o sócio André Schwartzman, em algumas delas, é necessária uma reestruturação profunda da empresa e de seu modelo de negócios.
"Sem um diagnóstico preciso, o futuro dessas empresas fica seriamente comprometido. Conforme o refinanciamento fica cada vez mais difícil de ser obtido, empresas que dependem do influxo constante de crédito poderão se encontrar diante de um cenário de recuperação judicial ou, pelo menos, uma reestruturação radical de suas operações", analisa.
Em casos menos dramáticos, empresas incapazes de gerar recursos suficientes para repagar suas dívidas e manter níveis competitivos de investimento estarão em condições menos favoráveis para aproveitar as oportunidades que aparecerão durante o ciclo de recuperação econômica. Estes negócios estarão bastante vulneráveis a aquisições ou à perda de terreno para concorrentes. "Em época de restrição de crédito e crise global, fica mais relevante a capacidade de a empresa claramente diagnosticar sua situação, instaurar uma cultura de caixa e implantar ações de impacto imediato", afirma Schwartzman.
Por outro lado, os prazos para a recuperação de crédito aumentou. Dois anos atrás, o tempo médio que um caso ficava com a área era de seis a 18 meses. Hoje, de 12 a 24 meses é a regra. Em outras palavras, está ficando mais desafiador e mais demorado resolver os problemas com as empresas-zumbi. 
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