domingo, 3 de junho de 2012

Práticos: os portos dependem deles


Profissionais são essenciais para que navios cheguem e zarpem dos grandes terminais

Publicado em 03/06/2012, às 07h01

Adriana Guarda

Hans Hutzler a caminho de começar a manobra do navio CAP Graham, em Suape / Foto: Guga Matos/JC Imagem

Hans Hutzler a caminho de começar a manobra do navio CAP Graham, em Suape

Foto: Guga Matos/JC Imagem

Quem desconhece a atividade portuária pode se surpreender com a figura de um profissional escalando uma escada de corda para embarcar ou desembarcar num navio.  Essa missão, um tanto heroica, cabe ao prático, uma espécie de manobrista de embarcações. Sem a subida dele a bordo, nenhum comandante pode atracar ou desatracar nos portos brasileiros. O serviço de praticagem é milenar e foi regulamentado no Brasil com a chegada de D.João VI ao Rio de Janeiro, em 1808, na abertura dos portos no País. Em Pernambuco a atividade é executada há 100 anos e conta hoje com 11 profissionais em atuação. 

“O prático é o primeiro agente do Estado a subir no navio quando ele chega ao porto. Antes mesmo do pessoal de saúde, vigilância sanitária, Receita e Polícia Federal. Os comandantes estão acostumados à navegação em alto mar. Não estão aptos a executar manobras em áreas restritas. Por isso, a importância e a responsabilidade da praticagem, que contribui para preservar as instalações, a infraestrutura e o meio ambiente local. É um profissional especializado, que conhece todas as características da região”, explica o prático Hans Hutzler, pernambucano de ascendência alemã.

Por questão de segurança, a praticagem é obrigatória por lei no Brasil. A atividade evita prejuízos econômicos e ambientais. “O vazamento de óleo da BP, no Golfo do México em 2010, nos Estados Unidos, serve como exemplo. O poço ficou aberto por 4 meses e o vazamento chegou a 1,2 milhão de barris. Imagine se um navio como o João Cândido bater numa pedra e derramar petróleo? Ele transporta o equivalente a um milhão de barris”, compara, lembrando da tragédia que seria para o turismo da região. Vizinhas de Suape estão as praias do Litoral Sul, inclusive a festeja da Porto de Galinhas.

Esse não é o único caso ilustrativo do papel preventivo da praticagem. O acidente mais famoso foi o do navio Exxon Valdez, no Alasca (EUA), que resultou no vazamento de 41 milhões de toneladas de óleo e um prejuízo de US$ 6,5 bilhões. Como o pagamento do serviço de praticagem era facultativo, o armador (dono do navio) decidiu economizar na tarifa e acabou pagando caro.

Recentemente, no Equador, um porto ficou um mês sem operar em função de um acidente. “O comandante exagerou na velocidade e o navio bateu em um portêiner (guindaste que opera contêineres da embarcação para o cais)”, conta Hutzler. O prático destaca que se uma embarcação encalhar no porto demora pelo menos um mês para ser removida, com prejuízo de inviabilizar a atividade portuária.

A praticagem funciona como uma espécie de cooperativa. Os práticos se juntam e mantém a estrutura para executar as manobras dos navios. No Estado, a empresa que reúne a categoria é a Pernambuco Pilots, que conta com 11 sócios. A empresa emprega 50 funcionários, entre marinheiros e operadores de rádio para atender aos portos de Recife e Suape. O grupo conta com oito lanchas, que são usadas no transporte dos práticos até os navios. Eles pagam as despesas e dividem os valores recebidos nas operações. “Nosso trabalho é difícil. E é uma lenda que recebemos alta remuneração”, reclama, sem revelar o valor. No mercado a informação é que, dependendo da movimentação do porto, o prático chega a tirar R$ 20 mil por mês. Eles trabalham sete dias e folgam sete e realizam uma média de 3 mil manobras por ano.

A equipe do 
JC acompanhou, da lancha da praticagem, a manobra de desatracação do navio de contêiner Cap.Graham, no Porto de Suape, num final de tarde de uma quarta-feira. Em exatos 30 minutos, o prático Hans Hutzler manobrou a embarcação, com o apoio de dois rebocadores. Equipado com colete, luvas, calçado adequado, rádio WHF e GPS ele escalou o navio de 20 metros de altura. Para realizar a manobra ele fica no alto da casaria, controlando pelo rádio como os rebocadores devem se posicionar e que potência devem usar para tirar o navio do cais. “O momento mais perigoso é quando o navio sai da área protegida pelo quebra-mar. “Quando o mar está grosso (revolto) a escada é jogada a três metros e nosso corpo vai junto. Isso faça sol ou faça chuva”, relata.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião sobre a matéria.